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25 de março de 2012

Ela não deveria...

   O mundo todo girava a sua volta. As palavras proferidas eram agudas e machucavam-na.
   Queria chorar. Sim, queria muito chorar, mas não podia, não deveria.
   Sentia ódio. Sentia tanto ódio que chegava a não ter mais o dom de amar, mas não podia, não deveria.
   Desejava poder gritar para que a dor a abandonasse em sua alma, mas não podia, não deveria.
   Tinha vontade de sair daquela casa. Tinha vontade de ficar sozinha, mas não podia, não deveria.
   Esperava que todo o som  do mundo cessasse de uma só vez. Esperava para quando pudesse ouvir o som seu sofrimento rasgando cada parte de seu ser, mas não podia, não deveria.
   Isso que sentia era desejo e repulsa por pensamentos que a enjoavam. Ela o amava, amava como os clichês que lia em seus livros, aquele amor que daria a vida por amá-lo. Mas ele não percebia.... continuava a se afogar cada vez mais em revoltas, em fingimentos. Ela já não aguentava mais.
   Encaminhou-se até seu closet e alcançou a bolsinha de medicamentos. Selecionou 6 frascos  mistos brancos e pretos, não deu muita atenção. Um, dois, três, quatro... e em um clique fez-se fechar  a caixinha. Na ponta dos pés, voltou a guardá-la atrás de cobertores pesados de veludo. Deu alguns passos até chegar ao armário de louças da cozinha. Ela não deveria, ela não podia. Encheu a taça de cristal com uma água límpida que caia da torneira. Cerca de meio copo de água. Suficiente.
   Ajeitou os comprimidos nas mãos... Mas... ela não podia, ela não deveria. Mas ela quis, ela sentiu, ela teve vontade, ela esperou, ela fez.