Gritos e mais gritos. Gritos de pavor, gritos de desespero. Gritos fracos e ratejantes, apensa ecos de mais um momento de tortura imaginária. Agora que o terror passou, as pessoas ao meu redor começam a tentar se aproximar de mim. Não para me ajudar ou me perguntar se estou bem, mas para voltar ao seu destino. Olham-me estranhamente, como se me julgassem louca. Parecem temer. Será que eles não sabem que sou normal, que sou gente, que sou humana? Que sou igual a eles?
Espere! Há alguém se aproximando... O que ela quer? Por que ela não se afastou de mim como todos os outros? Ela estendeu a mão para me ajudar a levantar. Relutante por um momento, resolvi aceitar. Só então me dei conta de minha situação: sentada no chão, com minhas malas semi-abertas, a roupa que eu vestia estava suja e até um pouco rasgada, Creio que essa mulher percebera minha percepção de mim mesma, pois ela sorriu tristemente para mim:- Vamos, vou ajudá-la a se recompor... - e assim me levantou, ajeitando sua bolsa em seu ombro. Pediu para um funcionário do aeroporto deixar minhas coisas junto às dela.
Ao chegarmos no banheiro, não pude deixar de notar-me do outro lado do espelho. Com uma visão mais ampla, pude perceber quem eu era, uma garota maluca sozinha em um aeroporto, com sua vida entregue a uma mala com roupas. Enquanto eu me apresentava a mim mesma, a desconhecida me auxiliava com meu cabelo. Ela falava, mas, no momento, incompreensível para sua receptora. Ouvi ela me perguntar se eu estava cosciente do que havia ocorrido há minutos, assim que me virou para organizar as cores que se misturavam em meu rosto. Fechei os olhos para ver se conseguia me lembrar de algo, oq ue facilitou para minha ajudante tirar algo de meus olhos. Quando voltei a abri-los, fiz com a cabeça que não. Ela riu, delicadamente e perguntou se poderia me contar. Sem coragem para pronunciar qualquer palavra, pedi com um olhar suplicante que não me escondesse nenhum detalhe.
Claro! Era óbvio! Mais um de meus ataques de loucura, mas... parecia tão real!
- E foi real. - confortando-me, parecia que ela lia meus pensamentos - Real para você, no seu mundo. E é isso que realmente importa...
Algo quente escorreu por minhas bochechas, levando consigo um sentimento indefinido, acho que era a lembrança de que acontecera, e deixando um rastro de rímel que minha ajudante passara em meus cílios.